Intervenção da vice-presidente da Associação dos
Antigos Alunos do Liceu Antero de Quental, Maria João Ruivo, no lançamento do
livro “Memórias do Nosso Liceu” realizado a 27 de março na Casa dos Açores de
Lisboa:
Exmos. Senhores
Presidente da Casa dos Açores (Dr. Miguel Loureiro)
Presidente da Delegação da AAALAQ (Dr. Eduíno de Jesus)
Oradores convidados - Dr. Mota Amaral e Dr. Jaime Gama
Vogal da Delegação da AAALAQ (Dr. Renato Borges de Sousa)
Presidente da AAALAQ (Dr. José Andrade)
Caros Antigos Alunos
Sras. e Srs.
Ficam, também, aqui, os nossos agradecimentos
a todos os que nos apoiaram e colaboraram neste projeto:
- à Empresa Publiçor, que assumiu, desde
logo, esta edição;- ao Arquiteto Eduardo Soares de Sousa, que, prontamente, acedeu ao meu pedido de conceber uma aguarela para a capa;
- ao José Franco, meu marido, pela bela galeria de fotos que tirou do Liceu atual;
- aos 92 antigos alunos que são, afinal, os autores deste livro;
- aos meus caros amigos Paulo Constância e José Andrade, com quem foi um enorme prazer trabalhar. Foram muitos e muitos e-mails e telefonemas que trocámos ao longo de largas semanas, especialmente pela noite dentro, que é, por vezes, quando o trabalho melhor flui.
- e claro, um agradecimento especial a todo este público aqui presente.
O objetivo fundamental deste Livro foi
homenagear o nosso Liceu, dando voz a alguns dos seus antigos alunos e espaço
às suas memórias, porque é muito de memórias que tudo se vai tecendo. E nesta
homenagem ficará perpetuada a importância que este Liceu teve para muitas das
gerações que por ele passaram.
Claro que nestas coisas, é importante
tentarmos estabelecer critérios para cometermos o mínimo possível de falhas,
mas todos sabemos que, por muitos critérios que sejam estabelecidos, há sempre erros,
fugas aos esquemas previamente pensados, esquecimentos inevitáveis.
Tivemos, portanto, desde o início, a
consciência de que uma obra desta natureza dificilmente chega ao fim. Tal como
o João Constância disse no seu texto de abertura do Livro, um projeto destes
implica sempre riscos, especialmente o de deixarmos esquecido quem não merece,
de modo algum, sê-lo. Por isso pedimos, no início, a algumas pessoas para nos
ajudarem a lembrar possíveis colaboradores. Recorremos, entre outros, ao
professor Rubens Pavão, ao Dr. Eduíno, ao Onésimo, que, embora não tendo
estudado no Liceu, conhece metade deste mundo e do outro e deu-nos boas
indicações sobre pessoas que não conhecíamos.
Foram milhares e milhares de alunos que
passaram por este Liceu e que poderiam ter dado importantes testemunhos das
ricas memórias que têm dele, mas não temos de encarar este volume como o final
de um projeto. Pelo contrário, preferimos ver nele, claramente, o começo de um
longo caminho que pode ser percorrido por esta ou por qualquer outra Direção da
nossa Associação.
O
Livro, como irão ver, abrange um período de cerca de 50 anos – dos anos 30 aos
80. São testemunhos de Antigos alunos, que vieram dos vários concelhos da ilha
de São Miguel e também das outras ilhas açorianas. Muitos deles, mais tarde,
espalharam-se pelo Continente, América, Canadá, etc. Antigos Alunos que, de uma
forma ou de outra, se notabilizaram, dentro e fora da região e do país, nas
mais variadas áreas: na Cultura, nas Artes, na Política, na Economia, no
Jornalismo, no Desporto e em tantas, tantas outras. Todos eles,
independentemente da época, têm pelo menos uma coisa em comum - o sentimento de
pertença a este espaço do Liceu. As memórias não serão exatamente as mesmas de
década para década, mas o espírito que as anima, no essencial, não mudou assim
tanto.
Sou professora deste Liceu há 26 anos, e
posso afirmar que ainda hoje, embora a ideia da excelência e do valor do ensino
seja muito diferente do que já foi (por vários motivos), os nossos alunos, pelo
menos os mais atentos e despertos, sentem vaidade de estudar nesta Escola (que
já mal conhecem como Liceu). Estas paredes do Antigo Palácio dos Fonte Bela
ainda exercem sobre eles uma grande influência, até no próprio comportamento
dentro e fora das salas de aula. Numa época em que se fala tanto da
indisciplina e das atitudes inaceitáveis de muitos jovens, o que, infelizmente,
é verdade, gostaria de vos levar a visitar o nosso Liceu para verem com os
vossos próprios olhos, que, sobretudo na parte antiga do palácio, não se vê um
risco nas paredes, uma porta partida ou um papel no chão. Até o ambiente nos
corredores, durante os intervalos, é muito mais silencioso do que o que se
verifica na parte nova do Liceu, conhecida por Secção. Isto mostra que aquelas
velhas paredes exercem ainda o seu poder no imaginário destes jovens, que são
os futuros Antigos Alunos.
Acabámos por incluir também, neste livro, textos
de pessoas já falecidas (cerca de 10). E como, mais uma vez, tínhamos de
estabelecer um critério dentro do possível, justo, optámos por limitar estes
últimos a pessoas desaparecidas nos últimos 10 anos, tempo de vida da nossa
Associação. Aliás, não posso deixar de referir aqui que foi com muito pesar que
recebemos a notícia do falecimento do Professor e Historiador Dr. Medeiros
Ferreira, que nos impressionou de modo ainda mais particular, porque ele tinha
acabado há poucos dias, de enviar o seu testemunho para o livro. Podemos
imaginar com que esforço o terá feito.
São inúmeras as memórias que atravessam este
livro e que os leitores irão ter oportunidade de saborear. Refiro apenas
algumas, como por exemplo: a abertura solene das aulas; as récitas no Ginásio, os
saraus na Biblioteca, espaço onde muitos descobriram o fascínio de viajar
através dos livros; a importância dos jornais Arco-Íris e Girassol,
onde começaram a revelar-se alguns dos futuros escritores e poetas deste país.
Muitos recordam, ainda, o rigor do exame de Admissão e momentos mais agradáveis
como a “bicha” dos caloiros ou os torneios desportivos, a sineta do Sr. Tavares
e os namoros no recreio (isto numa fase posterior, porque, antes disso ser
possível, havia a clara divisão entre rapazes e raparigas e o máximo que se
podia desejar era um breve aceno ao sexo oposto ou a troca rápida de um bilhete
às escondidas). Temos também aqui a geração que apanhou a viragem do 25 de
Abril, essa época marcada por uma enorme instabilidade, mas que trouxe aos
jovens o sabor de acreditar que Portugal poderia ter um Futuro bem mais
risonho…
Do fundo de todas estas memórias, sobressaem
nomes recorrentes, como era de esperar. Os nomes dos grandes mestres: Dr.
Pavão, Dr. Pacheco, Dr. João Anglin, Dr. Lúcio Miranda, Dr. Armando
Côrtes-Rodrigues, Dr. Ruy Galvão, o Mestre Ruy, como lhe chamavam e, se me
permitem dizê-lo, porque não seria justo omiti-lo, meu Pai, Fernando Aires, e
tantos outros, que são, vezes sem conta, aqui mencionados pelas marcas que
deixaram em tantos milhares de alunos.
Não posso deixar de referir que este projeto se
tornou, por várias razões, extremamente grato para mim. Estou ligada a este
Liceu desde que me tenho por gente. Meus Pais foram lá professores. Mais tarde,
fui, eu própria, aluna e regressei aos 22 anos como professora.
À medida que fui lendo todos estes
testemunhos, revivi, claro, muitas das minhas memórias, e este foi um processo
muito curioso, porque o facto de ser lá professora há 26 anos dá-me, por vezes,
a sensação de que nunca me cheguei a ausentar, não tendo, por vezes, o
distanciamento suficiente para fazer bom uso da memória. Ler estes testemunhos
foi uma forma de fazer isso, de me colocar, de novo, na pele de aluna e de
recordar o que foi ser adolescente neste Liceu há 30 anos e descobrir um mundo
de coisas importantes. Tudo isto reavivou a saudade imensa que tenho de alguns
dos meus grandes professores e da importância que tiveram na minha vida.
Para finalizar, deixo-vos aqui com o último
parágrafo do texto que escrevi para encerrar este Livro, e que passo a citar:
“Tenho a certeza de que, se percorrermos os corredores do nosso Liceu,
nos breves momentos em que neles não há alunos, conseguiremos ouvir os passos
de tantas gerações que por lá andaram como se fossem os nossos próprios passos
e, se entrarmos sozinhos na Biblioteca, os sonhos que invadiram aquele espaço
confundir-se-ão com os nossos próprios sonhos. Porque há coisas que são eternas
e a memória ajuda-nos a que assim seja.”
Muito obrigada
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